segunda-feira, 25 de junho de 2012

Há mar Negro e mar de Azov. Há ir e voltar.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Em contagem decrescente

Falta pouco tempo para arrancar para uma nova aventura.

A primeira parte será de 4/5 dias para o Raid Minde - Istambul.
As etapas são:
Minde - San Sebastiam
San  Sebastiam - Genova
Genova - Zabreb
Zabreg - Sofia
Sofia - Istambul
4000 Km

Está quase tudo preparado:

A Berlingo parece um relógio!
Pneus novos, pastilhas e discos e óleo no motor. Um frigorífico home-made e foi lavada e aspirada como nunca tinha sido antes.

Cartografia e GPS.

Os vistos estão quase todos prontos.

A lista de  moedas e câmbios que vamos utilizar:

Croácia - Kuna                                        1€ = 7.5 HRK
Sérvia - Dinar                                               1€ = 115.5 RSD
Bulgária - Lev                                               1€ = 1.96 BGN
Turquia - Lira                                               1€ = 2.28 TRY
Arménia - Dram                                          1€ = 525. 1 AMD
Azerbaijão - New Manat                           1€ = 0.99 AZN
Geórgia - Lari                                               1€ = 2.06 GEL
Rússia - Rublo                                              1€ = 41.13 RUB
Ukrania - Hryvna                                         1€ = 1.02 UAH
Moldávia - Leu                                             1€ = 15.3 MDL
Roménia - New Leu                                     1€ = 4.46 RON
Hungria - Forint                                           1€ = 287.87 HUF

Estoupraver a caminho do Cáucaso.

sábado, 9 de junho de 2012

Um pirata nas Caraíbas. Parte 3/3


Chamámos pelo rádio e pedimos autorização para entrar no porto de abrigo, in english! Entrámos e encostámos ao rebocador que se vê na foto. Eu, armado em campeão, saltei para o rebocador como um pirata nas Caraíbas a fazer uma abordagem, com um cabo de amarração na mão, uma faca nos dentes e os pés descalços. O rebocador estava há horas ao sol, a coberta era toda de ferro e estava a ferver... resultado: um escaldão em cada pé... é bom chegar a terra firme. Cumprimos os trâmites aduaneiros, metemo-nos no Ibero outra vez e fomos fundear à praia. À borlix que a marina era a pagantes!



Carlisle Bay, Bridgetown, Barbados

Fizemos logo ali amizade com outros marinheiros que ali estavam fundeados.
Saímos do barco, sedentos de uma cerveja fresca, que a nossa já tinha terminado há uns dias, e comer qualquer coisa que não fosse caldeirada de dourado com lentilhas. Foi nessa altura que aconteceu o episódio mais perigoso da viagem: chego à praia, tipo Cristóvão Colombo, caminho intrépido em direcção a uma estrada, olho para o lado esquerdo, não vêm carros e atravesso com ar triunfal. Xiiiiiiiiiiiii (travagem brusca) buzina altíssima, coração aos pulos! Aqui os carros vêm da direita, ia sendo atropelado! Deve ser isto que se chama morrer na praia...lol. Por estes lados tudo é in english, conduzem à inglesa e o resto também; milhas, polegadas, onças, galões e o raio que os parta...
À nossa chegada, festejos nas ruas, 1º Maio.

O barco dos vizinhos do lado, um lindíssimo Cutter de design Colin Archer, todo de madeira, era de um jovem casal alemão. Que sorte viajarem num barco daqueles, tão lindo.

À noite andavam sempre uns pescadores à volta do nosso barco a pescar peixes voadores, era engraçadíssimo. Durante a travessia andámos sempre a deitar fora aqueles peixes que se mandavam para cima do nosso barco, principalmente durante a noite, ainda apanhámos alguns cagaços com  peixe a cair em cima de nós no meio da escuridão. Nem sabíamos que aquilo se comia, aqui era tipo o prato nacional, uma iguaria, peixe voador frito. O peixe é de facto voador, tem asas e salta fora de água e voa aí uns dez ou vinte metros, mas o voo é completamente descontrolado... deve servir só para fugir aos predadores, do género, salve-se quem puder! Sai da água e anda aos trambulhões nas ondas...
O Colin Archer por dentro.
Então a pesca ao peixe voador era assim: andava um pescador num pequeno barco de madeira com um motor fora de bordo, ia de joelhos à proa do barco e tinha um sistema de cabos presos ao pés com que controlava o motor, para virar o barco. No meio do barco havia um pequeno mastro com uma luz no alto. A luz fazia assustar os peixes e fazia com que eles voassem, o pescador segurava nas mãos uma espécie de camaroeiro e a panhava-os no ar, tipo caçador de borboletas, chegava a apanhar 2 e 3 peixes ao mesmo tempo, depois no mesmo movimento em que os apanhava, despejava o camaroeiro atrás das costas para dentro do barco. Fartamo-nos de rir quando vimos aquilo.
Uma noite memorável com os amigos dos outros barcos. A meio da noite entraram no bar 2 ou 3 tipos que trabalhavam num paquete de cruzeiro, vinham bem tratados e com bolsos cheios de dólares, passaram a noite toda a pagar rodadas a toda a gente, numa noite em que se falavam todas as línguas de Babel. Saímos todos de gatas do bar. A noite acabou com uma ida a nado para o Ibero, depois de um dingy dos nossos vizinhos ter ido ao fundo devido à super lotação...




 De Barbados velejámos até Tobago, uma ilha paraíso, fundeámos em dois sítios diferentes da ilha para passar a noite, fiquei apaixonado pela ilha e com vontade de ficar mais tempo, os meus companheiros só queriam continuar viagem... (ainda assim deu para conhecer o dealer local)
Entre nós, os animos foram diminuindo, a bordo já se passava mais tempo a refilar uns com os outros do que na risota, como no início da viagem. É normal o azedume depois de tanto tempo a viver num espaço tão confinado. Já só queria apanhar uma oportunidade para saltar do barco e ir à minha vida.

Tobago é o paraíso na terra, dizem que foi nesta ilha que Daniel Defoe se insprirou para escrever Robinson Crusoe, mas também já li isso em relação a outras ilhas...
Alucinei a ver bandos de papagaios coloridos a levantar voo de cima de árvores carregadas de mangas... as cores, os cheiros e os sons eram incríveis depois de tantos dias de mar... Só quando cheguei a terra é que pensei nisso, no mar não há cheiros e os sons e as cores são muito limitadas. Aqui sentia um festival de sentidos!









Depois de Tobago velejámos para Trinidad, passando bem juntinho à Venezuela. Atracámos perto de Port of Spain, a capital. A essa altura já deitava espanhóis pelos olhos, 1500 milhas que navegámos juntos, para mim já era suficinete. Assim que tratámos dos passaportes e das cenas aduaneiras, agarrei na minha mochila e fiz me à vida, precisava de estar sozinho e explorar  terra.



 
A minha primeira foto sozinho :) eu e a sombra da minha mochila. Saí de madrugada e fiz uns quantos quilómetros a pé, depois apanhei uma Toyta Hiace, como as de África e fui até ao centro da cidade. Deambulei por ali, troquei dinheiro, procurei uma pensão... a determinada altura entrei numa ruela mais estreita onde havia uma série de tipos com ar suspeito... este não seria sítio de turistas e um branco sozinho àquela hora com uma mochila tão grande às costas passava tudo menos despercebido. Ainda assim fiz o meu melhor ar de "conheço isto perfeitamente e não tenho medo de ninguém", passo pelo primeiro tipo, ele estica o polegar e o indicador como se agarrasse uma pistola e encosta-a à cabeça, os outros fazem o mesmo gesto. Mantenho o sangue frio, com o coração aos pulos, «vão-me fazer a folha», olho para eles, sorrio e continuo o meu passo, penso para mim, perco a mochila mas vão se ver à rasca para me apanhar, felizmente tinha o passaporte no bolso... continuo a andar e mais à frente esgueiro-me por outra rua com acesso a uma praça mais principal com mais movimento. Não aconteceu nada... esqueci o assunto.



Os locais jogam criquete no parque, vestidos de branco, very english!  herança dos antigos colonos nas West Indies, como lhe chamam. Este é tambem o país da Calypso, um estilo de música muito fixe que tem um instrumento musical fantástico, o Pan Drum, um tambor feito de um bidom de metal. Curtam o som que saquei do youtube.
Vi várias pessoas a tocar na rua. O Carnaval aqui também é muito famoso.




Andei por ali uns dias a descansar, tomei 4 banhos por dia de água doce, coisa que não fazia desde as Canárias! e a curtir uma de lençóis lavados, não podia com o cheiro do meu saco cama... com humidade de 3 meses. Visitei um parque natural numa canoa, a atracção era uns pássaros vermelhos que viviam nas árvores verdes e davam grande espectáculo de cores (Scarlet Ibis).
No regresso do parque tive uma peripécia com o taxista que me trouxe. Já de noite, o taxi avariou, veio um cunhado do taxista buscar-nos e acabámos a noite a jantar em casa do taxista com a mulher e os filhos dele. Foi então ele que me contou a história do gesto da pistola dos tipos com ar suspeito. O gesto da pistola era super usual, era a pergunta se eu queria comprar erva! Mal eles sabiam que eu tinha vindo de Tobago e já conhecia o dealer que fornecia Trinidad, lol ;)
No dia a seguir voltei para Tobago.




Meti a mochila às costas e decidi  atravessar a ilha a pé de uma ponta à outra, aí uns 30 quilómetros. Comecei em Scarborough a capital que fica na ponta sul da ilha, deixei o que não precisava numa pensão e pus-me à estrada. Os automobilistas que passavam por mim diziam-me adeus e acenavam, deviam pensar, grande cromo que ali vai!


James o Rastafari sem rastas.
A meio da tarde, um calor do caneco, encontrei um rio com cascatas para a bela da banhoca. Aqui conheci o James, um rastafari que tinha cortado o cabelo há pouco tempo, vivia ali perto numa aldeia e convidou-me para ir lá. Contei-lhe a minha história e ele ficou doido, um branco que tinha vindo da Europa à vela... fui a atracção na aldeia dele! Todos eram rastafaris na aldeia, velhos, novos, homens e mulheres... o rastafari é tipo uma religião, fumar erva e estar em consonância com a natureza e essas cenas... muito cool, Bob Marley, etc!
Jantei com os amigos do James e dormi na aldeia, numa noite que passei a sacudir mosquitos.
O pequeno almoço é que foi muito fixe, o James apanhou uma mandioca no quintal, depois passamos na mercearia e comprámos uma lata de leite condensado, foi tudo para dentro de uma batedeira e fez um batido excelente, pilhas carregadas até à hora de almoço.


O amigo do James a preparar o jantar.



O palácio do James. Hehehehe.


Depois o James e um amigo guiaram-me até Charloteville, uma aldeia onde já tinha estado no Ibero, subimos uma serra sempre através da floresta, de catana em riste, uma floresta super densa, a verdadeira  jungle!

A minha única t-shirt a aguentar-se com o suor da selva...


A serra que subimos.







Fiquei uns dias em Charloteville, depois de me despedir dos meus amigos. Tinha comigo óculos e  barbatanas e fartei-me de mergulhar nos recifes.
Voltei à capital de autocarro, fiquei mais uns dias com um chavalo alemão que também andava por ali perdido, os dois esgotámos o stock de Rum da pensão, e depois um longo regresso a casa num voo de 500 escalas por cima do oceano que agora parecia tão pequeno.
Em Lisboa esperavam-me os braços daquela que agora é a minha mulher, e que já estava prestes a rifar-me.
A noite em que cheguei foi memorável com um concerto de Mano Chao ao pé da Torre de Belém e com todos os amigos.


Fim da história.

P.S. Para que conste já tenho mais algum juízo (pouco). Sou um respeitável pai de família. ;)

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Um pirata nas Caraíbas. Parte 2/3


Assim que saímos, começamos logo a levar no lombo, durante os primeiros dias, ondas de três ou quatro metros e vento fresco... num ápice Mogan ficou para trás com os nossos amigos do bar e da marina. À frente a imensidão até Cabo Verde, o nosso destino.
Vento de popa ou pelas alhetas, velas rizadas e ondas a varrer a coberta...
Conseguimos a primeira refeição 24 horas depois de zarparmos. Quando estávamos todos sentados junto ao leme com o prato com a comida, veio uma onda e zás, tudo a boiar, lá se vai a primeira refeição. 
A habituação à vida a bordo foi difícil com aquelas condições de mar. Todas as tarefas eram muito complicadas, principalmente cozinhar. O fogão tinha um mecanismo engenhoso para oscilar juntamente com o barco e as panelas eram presas ao próprio fogão. Para abrir um armário era necessário esperar pelo momento certo das ondas senão caia tudo lá de dentro. O frigorífico só se podia abrir se o barco fosse adornado a bombordo senão as latas de cerveja caiam todas e ficavam a rebolar de um lado para o outro.
Nos primeiros dias alimentámo-nos a cerveja e bolachas (na foto o espanhol com a cerveja na mão, acho que está assim em todas as fotos).
Dormir era uma comédia. Eu dormia no sofá do salão, tinha uma tábua que estava debaixo da almofada do assento e que se armava na vertical de maneira que dormia entalado entre essa tábua e as costas do sofá e ponha uma almofada a cada lado da cabeça para ficar entalada e não abanar de um lado para o outro enquanto dormia.
Quanto à casa de banho, nunca mais a utilizei depois do outro episódio, era sempre para sotavento...






O tempo foi melhorando. Passada uma semana, começámos a ver os primeiros sinais de terra, uns passaritos, algum lixo, até que apareceu terra, a ilha de São Vicente. Apontámos à baía do Mindelo e fundeamos, exaustos, aliviados e perfeitamente adaptados às condições.







Daqui ficaram mais duas histórias de marinharia, estas um pouco mais tristes. Ao nosso lado estava fundeado um motorsailer holandês que tinha estado connosco em Mogam e tinha saído uma semana antes de nós. Eram duas pessoas a bordo, o dono do barco e um amigo Belga. Apanharam um temporal terrível (nós só apanhámos o final). Durante uma noite de navegação ao largo da Mauritânia, o Belga que vinha a dormir no camarote sentiu o barco desgovernado no meio do temporal. Saiu cá fora e não viu o amigo. Nunca mais o viu. Caiu borda fora e foi engolido pelas ondas. Lançou um alerta, voltou atrás... mas não serviu de nada.
Ali estava ao nosso lado o rapaz, sozinho, num barco que não era dele, a ter de lidar com a polícia caboverdiana, ter de dar a notícia à família do dono do barco... etc. Situação lixada!
Outra história era a de um barco que também estava lá fundeado, havia já algum tempo e tinha aspecto disso, parecia um navio fantasma. Um rapaz contou-nos que se pensava que o barco pertencia a um navegador solitário, ninguém sabia ao certo. O que se dizia é que o comandante do barco tinha vindo a terra num dingy e ao regressar, já no fim da tarde, foi arrastado pelo vento e pela corrente para o alto mar. Nunca mais ninguém o viu... (se calhar tinha apanhado o avião e tinha ido para casa...)
Não me parece difícil ser arrastado para o alto mar, ali, e naquela altura do ano o vento é fortíssimo e a nós aconteceu-nos o mesmo, eu o Rafa estávamos a bordo do Ibero e o Sebas e a Emi tinham ido a terra no dingy. Ao regressarem, passaram por nós a grande velocidade sem se conseguirem agarrar ao veleiro. Quando percebemos a situação, que ao princípio parecia gozo, já era tarde demais. Ainda lancei um cabo, mas não valeu de nada. Felizmente estava a passar um pequeno barco de pesca que rapidamente safou a coisa. Foi o pescador que nos contou a história do navegador solitário.







Café Delta e SG Gigante! Num café cheio de fotos do Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, Eusébio e outros personagens...




2 ou 3 dias de Mindelo e lá fomos nós outra vez. Agora para a travessia propriamente dita, tínhamos 3 semanas pela frente até ao Caribe.



A bordo está-se sempre ocupado, constantemente se vai manobrando, para aproveitar o vento da melhor forma, mudar as velas da proa, caçar ou folgar a maior, rizar, soltar os rizos, mudar de bordo, etc. O vento chega a mudar um quadrante, durante o dia, de maneira que temos de estar sempre a fazer ajustes.   O veleiro nunca pára, de noite e de dia, sempre ao sabor do vento. É uma máquina perfeita, fiquei fascinado pela invenção! Não conheço uma máquina tão harmoniosa a desempenhar a sua função, adapta-se naturalmente a todas as condições de mar e vento e navega em todas as direcções, excepto contra o vento. Há ainda um monte de outras tarefas: cozinhar (lavar a loiça era fácil, punha-se tudo dentro de um saco de rede preso por um cabo e atirava-se borda fora, passados 5 minutos estava tudo a brilhar), limpar, arranjar coisas, pescar e dormir. Nunca se dorme mais de 4 horas seguidas, há  sempre duas pessoas acordadas e duas a descansar.



A pescaria por vezes corria bem, pescávamos ao corrido, uma linha sempre largada à popa, na ponta um destorcedor, depois um metro de cabo de aço fininho, um anzol grande, género fateixa, escondido num polvo de plástico colorido. Apanhámos quase sempre a mesma espécie, dourado e um ou outro atum pequeno. Nunca conseguimos tirar nenhum peixe dos mesmo grandes... a  habilidade era pouca e o material de pesca fraquinho, a cana tinha sido oferecida pelo Joan, o dono do bar de Mogan, o carreto da cana já não estava em grandes condições, de maneira que com puxões mais fortes a seda partia-se... Ainda assim foram muito fixe estas pescarias. Quando picava um bicho, a vida mudava a bordo, todos saíamos da letargia da ondulação e ficávamos todos aos pulos. Assim que um peixe caía no convés, a panela ia logo para o fogão, independentemente da hora, chegamos a comer caldeirada de Dourado às 10 da manhã...







Três episódios mais, durante a travessia. Um mergulho que dei no meio do oceano num dia sem vento em que baixamos as velas por um momento e ficamos a desfrutar a imensidão. Atirei-me à água, nadei por baixo do casco, atravessando por baixo da quilha, de um bordo ao outro. O azul da água era profundo, a transparência dava uma sensação inesquecível de vertigem. A carta marcava 2000m de profundidade. Aqui não tinhamos pé. :)
O segundo episódio: um dia lembrei-me de lavar a minha roupa, as t-shirts já ficavam de pé com o salitre... pus tudo dentro de um balde com água do mar e detergente para desencardir e amarrei o balde na popa do barco. Passado um bocado olhei para o balde e ele tinha-se voltado... fiz o resto da viagem com uma só t-shirt... um par de calções e sem cuecas...!

O terceiro episódio, no meio de uma manobra com a Genoa, a vela da proa, alguém (não me acuso) deixou escapar a adriza (o cabo que sobe a vela). Esta saiu disparada e deu três voltas ao mastro enrolando-se nos outros cabos todos, deixando tudo inoperacional... uma avaria bem complicada! O Sebas tinha um temperamento terrível e começou a largar blasfémias em todas as direcções: «lo cagamos tio, foder!!! me cago en la puta», etc, etc...
Enchi-me de coragem e subi ao mastro no meio de um vento do caraças com cabos enrolados a tudo à minha volta e o barco à mercê das ondas por estar à deriva. Prendi o meu arnês a um cabo pelo qual o resto da malta me içou e passei um mosquetão ao brandal da popa (o cabo de aço que vai do topo do mastro até à popa do barco). Enquanto tentava desenbaraçar aquela trapalhada toda, o balanço do barco fazia-me dar voltas ao brandal e os meus pés pendurados abanavam demasiado perto do windogerador que girava furiosamente... ai que medo... vou ficar sem pés... morro enforcado pela barriga... ok, não aconteceu nada e lá safamos a situação. No fim, o espanhol olha para mim já a sorrir -  «foder tio que huevos tienes!»


Dois dias depois... TERRA À VISTA!


 Barbados.

(continua.)